O então chamado Velho Moe era uma mulher idosa e caduca que morava em seu sítio perto do vilarejo de Brejo Seco.
O leitor deve estar a se perguntar o porquê do Velho Moe ser assim chamado, já que era uma mulher? Ora, se o leitor a tivesse conhecido, teria achado que fosse um homem por tal escrota que era. Em verdade vos digo que o Velho Moe se chamava desde o batismo em um ritual de quimbanda: Rodenilda da Silva, mais tarde este nome seria mudado definitivamente para o Velho Moe. Vou contar-lhes uma história, que conta a vida, ou melhor, o desastre do Velho Moe.
Como já vos relatei, o Velho Moe morava em um sítio perto do vilarejo de Brejo Seco. Não tente o leitor procurar este lugar no mapa, pois nomes e lugares foram modificados (com exceção do Velho Moe) para que o escritor que vos escreve não tenha problemas com os odiosos advogados. Mas voltando à vaca fria, ou melhor, à velha escrota, ou melhor, a minha história, o Velho Moe era execrado pela população do lugar, em particular as crianças. O Velho Moe era acusado de bruxaria do 71 e pedofilia pelas beatas e pelos críticos de arte do vilarejo. Mas isto não incomodava o Velho Moe, ele até gostava, pois podia levar a sua desgraçada vida feliz. O Velho Moe era dono de uma grande plantação de abóboras, plantação esta que lhe garantia sua subsistência e cobria seus gastos e caprichos. A vida do vilarejo era calma, com uma rotina desagradavelmente rotineira. Falando um português claro, era um marasmo! Só tinha movimento no vilarejo quando havia um enterro ou quando o caminhão de sal chegava à cidade.
Certa noite, o Velho Moe estava andando pela sua plantação de abóboras, quando viu uma coisa inusitada. Um homem alto e uma mulher baixinha, ambos com uma lanterna na mão e sobretudo preto, passaram correndo pela plantação. Isto o intrigou um pouco, mas logo esqueceu o episódio e continuou andando. Quinze minutos mais tarde, o Velho Moe viu então uma coisa realmente inusitada. Uma luz muito forte vindo do celeiro. O Velho Moe pegou seu facão e foi em direção ao celeiro, mas quando abriu a porta do celeiro, a luz desapareceu e tudo parecia normal.
_ Será que eu bebi demais? Perguntou-se a si mesmo sem ajuda de ninguém.
_ Ou será que fumei um bagulho em vez da minha Santa Maconha? É, foi isso! E o Velho Moe foi para casa com a certeza de que foi uma alucinação psicotrópica qualquer, já que não era a primeira vez.
_ Ou será que fumei um bagulho em vez da minha Santa Maconha? É, foi isso! E o Velho Moe foi para casa com a certeza de que foi uma alucinação psicotrópica qualquer, já que não era a primeira vez.
O outro dia foi o mais estranho de toda a História de Brejo Seco, o Velho Moe (tô de saco cheio de escrever Velho Moe) quase teve um ataque quando viu que toda a sua plantação de abóboras havia sumido.. pânico deu lugar ao terror... Terror do que? Do Tudo? Do nada? O que é Terror? O Velho Moe não sabia o que fazer, ele correu por todo o seu sítio, procurou em cada canto, cada chiqueiro, cada córrego, cada gaveta, e nada de suas abóboras.
_ Onde estás abóbora? Onde estás tu? Cadê porra?! Questionava-se o Velho Moe.
Só havia um lugar onde não procurara ainda... O CELEIRO! Mas se não estavam nas gavetas, não estariam no celeiro. É improvável! Mas ao chegar ao celeiro o Velho Moe viu uma coisa estranha, muito estranha: dezenas de corpos de crianças sem cabeça!!
O Velho Moe ficou bolado, segundos depois ele viu uma luz cor de abóbora muito forte do lado de fora. O Velho Moe correu para ver o que era. Ao chegar do lado de fora, viu uma coisa estranha, muito estranha: no lugar das abóboras, havia dezenas de cabeças de criança na plantação.
_ De onde vieram? Não tenho idéia! Perguntara-se estupidamente. O Velho Moe, além de caduco, era burro!
Neste exato momento, o Velho Moe viu uma coisa estranha, muito estranha: todos os habitantes de vila estavam invadindo o sítio, todos carregavam uma abóbora não mão e uma foice na outra e gritando palavras de ordem:
_ Lincha! Mata! Pisa! Escalpelem o Velho Moe! Ele roubou nossas crianças e as trocou por abóboras! Quero meus $5 de volta senão não dou o troco! (este grito veio do judeu dono do armarinho).
Mais incontrolável ficou a situação assim que o povo viu a plantação de cabeças decepadas. A população ensandecida se jogou em uma caçada furiosa atrás do Velho Moe. O Velho Moe – que saco – foi finalmente capturado e levado para a praça do vilarejo onde seria queimado por bruxaria e falsidade ideológica. A população queria sangue e teve.
No momento em que seria acesa a fogueira, aconteceu numa coisa estranha, muito estranha: uma luz muito forte (abóbora de novo) apareceu na praça. Todos ficaram cegos, menos o Velho Moe que já sofria de glaucoma. Quando a luz sumiu, não havia mais fogueira, nem mesmo o Velho Moe. Apenas um envelope no lugar onde ele estava havia uma carta dentro do envelope, e nela dizia: Não abra o envelope!
Neste momento houve uma explosão tão grande que o vilarejo hoje se chama “Brejo Seco Mesmo”. Não se sabe realmente o que aconteceu com o Velho Moe, alguns sobreviventes acham que ele voltou para o inferno de onde nunca deveria ter saído. Outros acham que foram alienígenas fazendo experiências entre humanos e hortifrutigranjeiros. Outros não acharam nada entre os escombros. Outros acham que isto é pura invenção do escritor que pelo visto é retardado.
Márcio Delgado
Conto escrito originalmente em 1995. Um dos primeiros contos (e mais malucos) da Necrose.
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