No meio de uma noite escura e fria, um jovem ariano chamado Fritz se adentrava furtivamente pelas sombras do quintal de seu amigo, também ariano, Chukrutz.
_ Chuckrutz... Chuckrutz... Anda sua ovelha! Fritz sussurrava enquanto batia na janela.
_ O que você quer? Perguntou o enfadado Chuckrutz.
_ Seu puto! Esqueceu do que combinamos hoje durante a tarde?
_ Mas hoje? Está passando um filme de Presidiária de Mulheres, e você sabe que... Disse Chuckrutz com ar desolado.
_ Presidiária de Mulheres? Puxa... Lamentou o jovem Fritz. Esqueça isso, vamos hoje. Só pode ser hoje!
_ Saco! Espera que vou deixar pra gravar o filme.
Alguns minutos depois, os dois jovens estavam no porão da residência de Fritz.
_ Não esqueça a pá e o pé-de-cabra. Disse Fritz enquanto pegava uma picareta.
_ Tá bom. Pô, o filme estava tão interessante... A mocinha bonitinha foi presa injustamente e as vilãs eram uma presidiária e uma sargento que pareciam jogadores de futebol americano. Lamentou Chuckrutz.
_ Esqueça esse filme. Você botou pra gravar né? Perguntou Fritz com os olhos brilhando enquanto saía do porão com a picareta.
_ Sim... Só que vai gravar as propagandas também... Paia.
_ Paia.
Meia hora depois, os jovens estavam espiando pela janela da casa do Seu Zequinha, zelador do Cemitério Municipal.
_ E agora Fritz? O velho tá acordado vendo televisão.
_ Psiu! Você vai lá e amarra ele.
_ O quê? E como eu vou fazer isso?
_ Se vira! Eu tenho que pensar em tudo?
_ Putz! Ele tá vendo o filme. Observou o ariano Chuckrutz.
_ Já disse pra você esquecer esse filme. Espera aí! Disse Fritz enquanto começava a se levantar, agora com a pá na mão.
Alguns minutos depois, Fritz colocava o velho num pequenino armário.
_ Será que você matou o velho? Perguntou Chuckrutz com os olhos fixos na TV.
_ Não. Foi uma pancadinha de leve. Disse Fritz enquanto fechava a porta do armário.
_ A pá discorda. Ela ficou empenada. Disse Chuckrutz examinando a tal ferramenta.
_Vamos logo, não temos muito tempo... e desligue essa TV!
Alguns minutos mais tarde, os jovens se encontravam parados em frente ao jazigo perpétuo da família Einsemberg.
_ É aqui mesmo? Você viu como tem gente morta com nome de Jazigo aqui nesse Cemitério? Perguntou Chuckrutz.
_ Mas você é burro hein? É aqui mesmo... Foi aqui que aquele judeu asqueroso, podre, nojento, odioso e pão-duro foi enterrado hoje. Disse Fritz tremendo de ódio.
_ É!
_ Vamos logo! Comece a cavar aí que eu começo aqui, mas em silêncio, alguém pode nos ouvir!
_ O que é que nós estamos procurando mesmo?
_ Seu asno da baviera! Você não lembra da boca desse judeu nojento? Os quatro dentes dianteiros eram de ouro! Ele não vai precisar deles agora que está no inferno.
_ Esses judeus porcos que se esgueiram nas sombras para roubar a raça superior, ou seja, nós.
_ Você? Superior? Cala a boca e cave!
Mais tarde, quando apenas o caixão estava a mostra, os dois jovens, molhados de suor se entreolhavam.
_ Anda, Chuckrutz! Abre o caixão com o pé-de-cabra.
_ Tudo eu! Vá você!
_ Não grite sua lontra albina! Você tá parecendo um judeu circuncidado.
_ Sem apelar! Disse Chuckrutz enquanto entrava no esquife semita com o pé-de-cabra.
Alguns minutou depois, os jovens trocavam insultos.
_ Como não tem dente nenhum? Seu idiota! Ele tinha quatro dentes de ouro!
_ Venha aqui e veja Fritz. Ele tá banguela. A culpa é sua!
_ Filho de um joelho de porco! Até morto esse judeu passa a perna na gente.
_ O que nós vamos fazer agora? Tivemos esse trabalho à toa, e ainda perdi o filme.
_ Vamos ter que fugir daqui agora antes que alguém nos veja.
Depois de alguns metros do jazigo do judeu morto, Chuckrutz viu algo.
_ Fritz... Tá vindo alguém, lá no fundo. Parecem duas pessoas e estão vindo pra cá. Sussurrou Chuckrutz.
_ Vamos nos esconder atrás daquela lápide e esperar eles passarem.
Instantes depois, os jovens loiros estavam "bolados" com o que viam.
_ Fritz... Aqueles dois não são os sobrinhos do famigerado judeu?
_ Sim... E os patifes estão carregando pás e picaretas! Sujeitos asquerosos! Estão roubando o próprio tio!
_ Quem seria tão baixo a ponto de profanar um defunto?
_ Sua mãe, desgraçado.
_ Olhe a cara deles. Eles devem estar confusos também. Encontraram o caixão do tio aberto. Eles devem estar atrás dos dentes de ouro também.
_ Psiu! Seu repolho seco! Fala baixo. Veja! Eles estão discutindo também. Acho que eles vão embora.
_ Olha a cara deles... hehehe. Estão putos da vida. Alguém chegou antes deles! Que otários! Hehehe.
_ Chukrutz... Chegaram antes de nós também!
Passados alguns minutos, Fritz e Chukrutz tomam uma decisão.
_ Chuckrutz, eles já foram. Vamos também.
_ Mais que bosta. Perdi o filme a toa.
_ Vamos pra sua casa e ver a gravação.
_ Ok. Apesar de tudo a noite não foi tão perdida assim. Vimos dois judeus se foderem!
Assim que os dois jovens entravam na névoa na madrugada e seus vultos eram apenas dias manchas plúmbeas num mar de escuridão, algo sinistro acontecia no túmulo do judeu. O corpo que até então permanecia inerte, abriu os olhos, ergueu-se rígido sem qualquer esforço e colocou a mão esquerda no bolso do paletó negro com movimentos lentos e firmes. Dele retirou quatro pequenas peças douradas e os levou em direção a boca. Instantes depois, o cadáver estava com os quatro dentes de ouro no local onde estiveram por mais de quarenta e cinco anos. Feito isso, o ser do além deitou novamente em seu jazigo e com uma das mãos fechou a tampa do caixão sobre si mesmo. Tudo ficou sob um completo silêncio por alguns segundos e só foi quebrada com uma frase vinda do esquife:
_ Nem morto!
Márcio Delgado
Conto originalmente escrito em 1996.Revisto em 2012.
_ Chuckrutz... Chuckrutz... Anda sua ovelha! Fritz sussurrava enquanto batia na janela.
_ O que você quer? Perguntou o enfadado Chuckrutz.
_ Seu puto! Esqueceu do que combinamos hoje durante a tarde?
_ Mas hoje? Está passando um filme de Presidiária de Mulheres, e você sabe que... Disse Chuckrutz com ar desolado.
_ Presidiária de Mulheres? Puxa... Lamentou o jovem Fritz. Esqueça isso, vamos hoje. Só pode ser hoje!
_ Saco! Espera que vou deixar pra gravar o filme.
Alguns minutos depois, os dois jovens estavam no porão da residência de Fritz.
_ Não esqueça a pá e o pé-de-cabra. Disse Fritz enquanto pegava uma picareta.
_ Tá bom. Pô, o filme estava tão interessante... A mocinha bonitinha foi presa injustamente e as vilãs eram uma presidiária e uma sargento que pareciam jogadores de futebol americano. Lamentou Chuckrutz.
_ Esqueça esse filme. Você botou pra gravar né? Perguntou Fritz com os olhos brilhando enquanto saía do porão com a picareta.
_ Sim... Só que vai gravar as propagandas também... Paia.
_ Paia.
Meia hora depois, os jovens estavam espiando pela janela da casa do Seu Zequinha, zelador do Cemitério Municipal.
_ E agora Fritz? O velho tá acordado vendo televisão.
_ Psiu! Você vai lá e amarra ele.
_ O quê? E como eu vou fazer isso?
_ Se vira! Eu tenho que pensar em tudo?
_ Putz! Ele tá vendo o filme. Observou o ariano Chuckrutz.
_ Já disse pra você esquecer esse filme. Espera aí! Disse Fritz enquanto começava a se levantar, agora com a pá na mão.
Alguns minutos depois, Fritz colocava o velho num pequenino armário.
_ Será que você matou o velho? Perguntou Chuckrutz com os olhos fixos na TV.
_ Não. Foi uma pancadinha de leve. Disse Fritz enquanto fechava a porta do armário.
_ A pá discorda. Ela ficou empenada. Disse Chuckrutz examinando a tal ferramenta.
_Vamos logo, não temos muito tempo... e desligue essa TV!
Alguns minutos mais tarde, os jovens se encontravam parados em frente ao jazigo perpétuo da família Einsemberg.
_ É aqui mesmo? Você viu como tem gente morta com nome de Jazigo aqui nesse Cemitério? Perguntou Chuckrutz.
_ Mas você é burro hein? É aqui mesmo... Foi aqui que aquele judeu asqueroso, podre, nojento, odioso e pão-duro foi enterrado hoje. Disse Fritz tremendo de ódio.
_ É!
_ Vamos logo! Comece a cavar aí que eu começo aqui, mas em silêncio, alguém pode nos ouvir!
_ O que é que nós estamos procurando mesmo?
_ Seu asno da baviera! Você não lembra da boca desse judeu nojento? Os quatro dentes dianteiros eram de ouro! Ele não vai precisar deles agora que está no inferno.
_ Esses judeus porcos que se esgueiram nas sombras para roubar a raça superior, ou seja, nós.
_ Você? Superior? Cala a boca e cave!
Mais tarde, quando apenas o caixão estava a mostra, os dois jovens, molhados de suor se entreolhavam.
_ Anda, Chuckrutz! Abre o caixão com o pé-de-cabra.
_ Tudo eu! Vá você!
_ Não grite sua lontra albina! Você tá parecendo um judeu circuncidado.
_ Sem apelar! Disse Chuckrutz enquanto entrava no esquife semita com o pé-de-cabra.
Alguns minutou depois, os jovens trocavam insultos.
_ Como não tem dente nenhum? Seu idiota! Ele tinha quatro dentes de ouro!
_ Venha aqui e veja Fritz. Ele tá banguela. A culpa é sua!
_ Filho de um joelho de porco! Até morto esse judeu passa a perna na gente.
_ O que nós vamos fazer agora? Tivemos esse trabalho à toa, e ainda perdi o filme.
_ Vamos ter que fugir daqui agora antes que alguém nos veja.
Depois de alguns metros do jazigo do judeu morto, Chuckrutz viu algo.
_ Fritz... Tá vindo alguém, lá no fundo. Parecem duas pessoas e estão vindo pra cá. Sussurrou Chuckrutz.
_ Vamos nos esconder atrás daquela lápide e esperar eles passarem.
Instantes depois, os jovens loiros estavam "bolados" com o que viam.
_ Fritz... Aqueles dois não são os sobrinhos do famigerado judeu?
_ Sim... E os patifes estão carregando pás e picaretas! Sujeitos asquerosos! Estão roubando o próprio tio!
_ Quem seria tão baixo a ponto de profanar um defunto?
_ Sua mãe, desgraçado.
_ Olhe a cara deles. Eles devem estar confusos também. Encontraram o caixão do tio aberto. Eles devem estar atrás dos dentes de ouro também.
_ Psiu! Seu repolho seco! Fala baixo. Veja! Eles estão discutindo também. Acho que eles vão embora.
_ Olha a cara deles... hehehe. Estão putos da vida. Alguém chegou antes deles! Que otários! Hehehe.
_ Chukrutz... Chegaram antes de nós também!
Passados alguns minutos, Fritz e Chukrutz tomam uma decisão.
_ Chuckrutz, eles já foram. Vamos também.
_ Mais que bosta. Perdi o filme a toa.
_ Vamos pra sua casa e ver a gravação.
_ Ok. Apesar de tudo a noite não foi tão perdida assim. Vimos dois judeus se foderem!
Assim que os dois jovens entravam na névoa na madrugada e seus vultos eram apenas dias manchas plúmbeas num mar de escuridão, algo sinistro acontecia no túmulo do judeu. O corpo que até então permanecia inerte, abriu os olhos, ergueu-se rígido sem qualquer esforço e colocou a mão esquerda no bolso do paletó negro com movimentos lentos e firmes. Dele retirou quatro pequenas peças douradas e os levou em direção a boca. Instantes depois, o cadáver estava com os quatro dentes de ouro no local onde estiveram por mais de quarenta e cinco anos. Feito isso, o ser do além deitou novamente em seu jazigo e com uma das mãos fechou a tampa do caixão sobre si mesmo. Tudo ficou sob um completo silêncio por alguns segundos e só foi quebrada com uma frase vinda do esquife:
_ Nem morto!
Márcio Delgado
Conto originalmente escrito em 1996.Revisto em 2012.
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