sábado, 28 de janeiro de 2012

Contos de Terror e/ou Humor Negro - O Vinho do Tinhoso

Era uma noite estranha, muito estranha.

Parecia que o mundo caía sobre o pobre Vilarejo de Ressaquinha, uma tempestade castigava as pequenas casas e ruas do lugar. Todos estavam em casa, ninguém se atreveria sair sob um dilúvio daqueles. Só se notava uma pequena movimentação em um único lugar. Apenas cinco pessoas estavam na Cantina, o velho dono do lugar Sr. Oliveira, uma prostituta Regininha Marcha-ré, os irmãos Filho e o leiteiro da cidade, o Sr. Leite.

Todos estavam bebendo e conversando frivolidades, papo de bêbado:
_ Você acha que o universo é uma expansão constante como enunciou Hubble ou segue uma variação volumétrica pulsante? Perguntou o velho Sr. Oliveira.
_ Se analisar-mos a variação da temperatura do espaço desde o Big-Bang, notaremos que a temperatura esta diminuindo. Hoje se encontra pouco acima do zero absoluto. Talvez quando atingir o zero, toda a matéria se contraia novamente até atingir temperaturas e pressões monumentais para um novo Big-Bang. Respondeu o humilde fazendeiro Mano Filho.

Como o leitor pode perceber, é só mais uma conversa normal, sem sentido, entre dois bêbados, daquelas que se ouvem todos os dias nos bares do mundo. A conversa informal seguiu amistosamente enquanto todos esperavam a tempestade terminar.
De repente! Não mais que de repente, a porta do boteco se abre num estrondo. Todos no bar olham assustados para a porta. Uma corrente de vento, chuva e relâmpagos revela um homem, alto, forte, usando uma capa e roupas completamente negras e chapéu de abs enormes. Logo entra na birosca, mal se consegue ver o rosto do forasteiro que carregava sobre o ombro, um grande barril.

Todos ficaram paralisados ao ver a figura negra na porta do bar. O homem se aproximou lentamente do balcão, todos se afastaram, quando colocou o grande barril no balcão e disse:
_ O Senhor é o dono deste estabelecimento comercial? Tenho algo para mostrar-lhe. Disse o homem de preto simultaneamente com um relâmpago.
O Senhor Oliveira engoliu em seco e só conseguiu dizer:
_ Sss..so...sou.

Nesse momento, Mano Filho colocou sua mão na cintura, no local onde sempre carregava seu revólver, ele era um homem pacífico, mas tomara o hábito de andar armado desde os tempos de seus avós.
_ Pode ficar tranquilo Sr. Filho, eu vim em paz! Disse o homem sem olhar para o agricultor, que tirou a mão da cintura em um espasmo.

_ Como sabe meu nome? Eu te conheço? Perguntou irritado o trabalhador rural.
Sem responder à pergunta, o homem de preto apenas disse ao Sr. Oliveira.
_ Tenho nesse barril um excelente vinho. É um vinho que o senhor jamais encontrará igual, nesse mundo. Estou querendo lhe vender.
_ Por que diabos um homem sairia nessa chuva pelas estradas para vender vinho?  Perguntou a meretriz Regina Marcha-ré.

_ Meu Senhor, eu não o conheço e não preciso de vinho algum. Tenho uma grande e ótima adega aqui na taberna. Disse o dono da espelunca.
_ Estou disposto a dar-lhe este barril de graça para o Senhor e seus convidados provarem. Se não gostarem, não cobro nada, mas se gostarem, farei meu preço. De acordo?

Palavras mágicas! "De graça, até ônibus errado". O Senhor Oliveira ao ouvir isso, aceitou de bom grado o barril e começou a abrir-lo com um pé de cabra. O homem de preto sentou num canto afastado do bar enquanto todos formavam uma roda entorno do Barril, todos ansiosos por um vinho grátis.

Em minutos todos bebiam feitos perus em véspera de natal, o Sr. Leite já havia bebido cinco canecas grandes, os irmãos Filho faziam disputas sobre o maior gole. Todos estavam enchendo a cara. O vinho era delicioso. O homem de preto só acompanhava a cena de longe, com um pequenino sorriso no canto da boca.
_ O Senhor não vai beber nada? Perguntou Irmão Filho ao forasteiro.
_ Eu não bebo... vinho.

Todos estavam falando alto, rindo, contando piadas e histórias. Tudo parecia normal, mas... De repente os dois irmãos estavam discutindo alto, não se sabia o motivo, mas seja qual for, estava esquentando.
_ Calma gente... Vamos beber mais um pouco! Alegria! Disse o leiteiro.
_ Fica na sua! Seu desgraçado, filho de uma vaca! Gritou o mais Filho mais velho.
_ Não venha com grosseria! Seu caipira comedor de capim, cretino! Respondeu o leiteiro.
_ Parem de brigar! Disse o Sr. Oliveira.

Mas nesse momento começou a tragédia. O mais novo Filho sacou do revólver que também carregava e disparou dois tiro à queima roupa na boca do Sr. Oliveira, que caiu com a cabeça espatifada e miolos voando para todos os lados.
_ Cala o lixo dessa boca, seu velho patife! Gritou o jovem assassino.

Ao ver isso, Regina Marcha-ré, que estava ao lado do Sr. Oliveira, pegou a escopeta de dois canos que o velho Sr. Oliveira mantinha debaixo do balcão e disparou um tiro no peito de fazendeiro. O tiro o arremessou ao outro lado do bar. Uma chuva de sangue cobriu todos que estavam em volta.
_ O que você tem contra putas? Seu filho de uma! Gritou a mundana um pouco antes de ter seus olhos perfurados por uma garrafa que o irmão mais velho do morto a havia jogado.
_ Maldito! Você me cegou! Gritou a pistoleira ao camponês que se preparava para dar um tiro na assassina de seu irmão. Mas o leiteiro foi mais rápido, agarrou a cabeça do fazendeiro e a segurou na máquina de cortar mortadelas em fatias que estava no balcão. O fazendeiro tentava se soltar do leiteiro enquanto vociferava encolerizado.
_ Me larga! Eu vou matar essa vadia!
SLEPT! O leiteiro ligou a máquina de laminas circulares e a tampa do crânio do agricultor caiu no chão.
_ Ai! Seu desgraçado! Vou te matar! Gritou o fazendeiro Filho ao ver seu escalpo no chão do bar.
SPLOFT! As laminas alcançaram os miolos do homem que tremia enquanto o leiteiro o segurava com toda a sua força.

Regina Marcha-ré, que se contorcia de dor e não via o que estava acontecendo, pois metade de uma garrafa ficou alojada no seu olho direito, começou a dar tiros pra todos os lados com a escopeta que ainda segurava na mão. Infelizmente um tiro acertou na perna do Sr. Leiteiro, que ao tentar se segurar na caixa registradora do balcão para não cair, acabou arrastando-a para a beirada, fazendo com que ela caísse em sua cabeça, funcionando como um quebra nozes. A caixa registradora que era feita de cobre reduziu a cabeça do Sr. Leite em uma pasta de sangue e miolos.

O forasteiro assistiu tudo aquilo, sem demonstrar uma ponta sequer de espanto. Ficou sentado assistindo aquela cena que não durou mais do que alguns segundos. Agora, apenas a mulher estava viva, caída num canto atrás do balcão. Ele se aproximou da pobre mulher e disse:
_ Gostaram do Vinho?
_ Seu filho do demônio! O quê tinha naquele vinho? Gritou a sodomita.
_ Eu não sou filho do demônio. Eu sou o próprio! Uma risada demoníaca foi ouvida a quilômetros de distância, mesmo sob a chuva forte que castigava o lugarejo.
_ Não!!!!!! ARGH!!!!!! Gritou de desespero a mulher que morreu logo depois, pois o resto da cerveja que ainda estava na garrafa, começou a escorrer para dentro de suas via nasais e a fiz morrer afogada com cerveja, sangue, muco e catarro.

O homem de preto olhava os cinco corpos espalhados pela taberna, que agora estava tingida de sangue por todos os lados.
_ Cinco almas podres em troco de um bom Vinho do Tinhoso? Acho que valeu a pena! Disse o homem de preto ao sair da taverna no meio da noite levando o barril vazio.



Márcio Delgado
Conto escrito em 1995. Revisto em 2012.

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