Numa noite escura e fria, uma sombra movimentava-se furtivamente pelas moitas de um quintal até a janela de um jovem ariano que assistia ao seu televisor tranquilamente.
_ Chuckrutz! Chuckrutz! Sua anta! Vamos! Estamos atrasados! Disse a sombra ao rapaz.
_ O que você quer Fritz? Vou assistir a um filme agora. Não vou sair hoje com você. Lembra do que aconteceu na última vez?
(Leia o conto "Os Profanadores de Jazigos Perpétuos" também disponível aqui na Necrose)
(Leia o conto "Os Profanadores de Jazigos Perpétuos" também disponível aqui na Necrose)
_ Não foi culpa minha. Que filme é esse? Outro sobre Presidiária de Mulheres? Fritz perguntou com ar de escárnio.
_ Não sei o nome desse direito, só sei que começa com "A Ilha do..."
_ A "Ilha do...". Puxa, esse deve ser bom. Deixe o vídeo pra gravar, vamos logo.
_ Droga! O que é dessa vez? Perguntou Chuckrutz aborrecido.
_ Sua anta loira! Não lembra? Hoje é quinta-feira... Hoje nós iremos até a Encruzilhada do Muku, perto da Curva do Tinhoso e pegaremos o nosso Cramulhãozinho! Disse Fritz com ar demoníaco e esfregando as mãos uma na outra.
_ Ahh... Mas o que diabos é isso? Cramulhãozinho?
_ É isso! O Diabo! Nós teremos um diabinho numa garrafa e poderemos fazer qualquer coisa!
_ O que você andou bebendo Fritz?
_ O que você andou bebendo Fritz?
_ Cala boca e vamos!
Alguns minutos depois, os jovens se aproximavam da Curva do Tinhoso.
_Se abaixa aí Chuckrutz! Tá vendo? Tem um cara fazendo um trabalho na encruzilhada... Deve ser pra Exú. Vamos esperar ele ir embora.
_ Como você sabe? Perguntou Chuckrutz.
_ Hoje é quinta e ele está com uma garrafa de pinga, farofa, frango, uma fita vermelha, uma vela preta e uma caixa de fósforos.
_ E daí?
_ Fala baixo! Isso aí são algumas das oferendas para o "Homem da Encruzilhada", também conhecido como "Exú Caveira". Disse Fritz com um ar de sabedoria.
_ Como você sabe disso tudo?
_ Eu li numa página na Internet. Numa história chamada "A Pomba-Gira Italiana".
_ Cruzes... Só um maluco pra fazer uma página assim.
Nesse momento uma pedra, vinda no além, atinge a cabeça de Chuckrutz.
_ Ai! Quem foi o filho da puta?
_ Psiu! Fica quieto Chuckrtz! O cara pode ouvir.
Minutos depois, os jovens chegam até a Encruzilhada do Muku.
_ O cara já sumiu na "Curva do Tinhoso". Vamos começar.
_ Ok.
_ Chuckrutz! Seu filho duma égua loira! Não coma o frango e a farofa de Exú! Gritou Fritz.
_ Por que não? Tá bom pra diabo. Disse o jovem Chuckrutz cuspindo farofa em Fritz.
_ Pede licença antes de encostar nisso aí. Deixa pra lá. Praga nenhuma pega em você. Vamos , me dê a garrafa de pinga. Esvazia ela... Porra! Não beba! Derrame no chão.
_ Como vamos pegar o tal capetinha?
_ Pode deixar. Eu sei como. Basta fazer o que mandar.
_ Ninguém manda em mim.
_ Porra!
_ Aprendeu isso na tal página? Disse Chuckrutz olhando para o Céu.
_ Não, achei uma mandinga enrolada num toco de bambu perto do Terreiro do Pai Tumé.
_ Fritz... Você é bem esquisito!
_ Fritz... Você é bem esquisito!
Minutos depois...
_ Quase pronto. Já temos o fumo, três charutos, fita preta envolta da garrafa com a rolha, farinha de trigo. Só falta acender a vela vermelha... Me dá essa aí.
_ Essa? Mas a mandinga disse "vela vermelha pequena". Essa é grande.
_ Você não entende de nada! Me dá logo seu jumento de olhos azuis!
_ Fritz, acho bom você seguir essa mandinga direto. Disse Chuckrutz com ar de dúvida.
_ Não temos tempo de procurar uma vela pequena, vai essa mesmo! Quebro ela no meio e pronto. Agora é só acender a vela e falar essas preces que estão na mandinga que o vulto aparecerá dentro da garrafa tampada.
_ Ok, se você sabe o que está fazendo.
O Jovem Fritz, após acender a vela vermelha, começou a "cantar" as preces da mandinga.
_ Aê, Aê, Aê.. Passa corisco, não deixa rabisco! O Pai de Santo tá meio do trabalho... O Pai de Santo tá ponta do baralho... O Pai de Santo tá meio do trabalho...
_ O Pai de Santo tá casa do caralho! Chuckrutz completa o canto rindo.
_ Porra! Não zonea a parada!
_ Desculpe.
Fritz cantava com os olhos fechados enquanto fazia movimentos pendulares com a cabeça.
_ Fritz, você tem certeza que é essa a prece mesmo?
_ Cala boca! Aê, Aê, Aê...
Enquanto Fritz cantava, uma brisa leve a fria começou a aparecer.
_ Tá frio aqui... Anda logo com isso, Fritz.
_ Já acabei. Agora é só esperar.
_ Esse vento aumentando... Olha! Apagou a vela!
_ Ele está chegando! Logo teremos o nosso próprio Cramulhãozinho! Disse Fritz exultante.
_ Fritz... Tô com medo... Olha! Tem uma fumaça vermelha dentro da garrafa!
_ Fritz... Tô com medo... Olha! Tem uma fumaça vermelha dentro da garrafa!
_ É ele! É ele! O Carcará tá chegando!
O que se seguiu logo depois deixou os jovens arianos apavorados. Eles ficaram olhando para a garrafa por alguns segundos, congelados pelo pavor. Depois se entreolharam e saíram correndo desesperadamente e gritando pela estrada abandonada que levava até a Curva do Tinhoso.
A garrafa de pinga estava balançando loucamente. A garrafa não estava mais vazia. Havia algo dentro dela. Uma criatura vermelha, chifruda e com barba negra estava dentro dela... Só que o demônio crescia... crescia... crescia... sendo cada vez mais prensado contra o vidro da garrafa. O vulto engarrafado começou a gritar:
_ Voltem aqui, malditos! Quem foi o estúpido que usou uma vela grande? Tirem-me daqui! Filhos de uma puta!!
Lorde Cigano
Conto originalmente escrito em 1995 e revisto em 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário