Rio de Janeiro - Brasil, noite de 8 de julho de 1928. Ninguém passava pela Rua Vicente Pires, principalmente à noite. Diziam que ela era amaldiçoada, mas eu não acreditei, precisava de um lugar para ficar, pelo menos por aquela noite.
A rua era cercada por velhos sobrados abandonados escuros e sujos, muito sujos. Nem as prostitutas e gatunos moravam mais alí. Mas a fome e o frio eram maiores que o medo, maiores que o pavor de passar a noite num lugar tenebroso como aquele. As sombras pareciam sinistramente vivas, minha mente confusa não sabia o que pensar. Mas uma em especial me chamou atenção, fui em sua direção. Acabei chegando num sobrado caindo aos pedaços que estava com a porta escancarada. Minhas pernas tremiam, não era por causa da Cachaça Sangue do Demônio que eu havia tomado no Bar do Seu Zequinha, era medo mesmo! Havia teias de aranha por todo o lugar, sem falar no cheiro de mofo, parecia abandonado há anos. Mas algo estranho, muito estranho aconteceu.
Uma luz de vela brilhava num aposento ao lado, fiquei hipnotizado e foi em direção daquela luz. Ao chegar ao aposento, tamanho foi o susto, que se eu fosse uma mulher, um rebento alí teria se formado!!! Havia uma mulher sentada numa cadeira empoeirada com uma caixa ao seu lado. Ela era feia, vestia uma camisola verde claro (meio azul piscina) como aquelas usadas em hospital (americano, claro). Fiquei mais surpreso ainda quando ela me chamou pelo nome:
"Belmiro! Será que você pode ma ajudar?" A voz era esganiçada e sombria. Contive meu temor.
"Não tenha medo Sr. Belmiro. Eu sei que o senhor precisa de dinheiro... eu pago bem ao senhor se me ajudar com esta caixa. Eu já cansei de pedir, mas ninguém me ajuda" disse a figura.
Essa seria minha chance de comer algo decente (as moelas que comia no Seu Zequinha não eram consideradas descentes). Todo o medo que existia passou no momento que ela disse que me pagaria (de graça até ônibus errado). Não pestanejei e aceitei automaticamente, nem quis saber o que tinha na caixa. Somente perguntei para onde eu deveria levá-la. Ela me deu o "cascalho", o qual nem contei e enfiei-o no bolso, certificando que o mesmo não estava furado. Já com o endereço em mente, calculei que levaria menos de 15 minutos. Seria o dinheiro mais fácil da minha vida.
A mulher estava logo atrás de mim, pois iria me ensinar o caminho. No início não notei nada de errado, mas de repente, comecei a sentir um cheiro estranho, muito estranho, vindo da caixa...um cheiro de morte!!!!!
A mulher continuava falando, mas não via mais a sombra dela no chão. Nesse momento, eu olhei de soslaio para onde ela deveria estar, mas não estava! Comecei a ficar com medo. Parei um instante e pensei em abrir a caixa, mas fui interrompido pela voz da mulher:
"Ei!!!!...Não abra a caixa!!! O senhor terá que ir até o fim!!! Já que paguei adiantado pelo serviço!!!!"
O pavor tomou conta de mim, minha mente confusa, não sabia o que fazer. Não sabia de onde vinha a famigerada voz. Imaginei que viesse da caixa, mas não quis arriscar.
"Não para Seu Belmiro!! Eu quero chegar logo!!!!"
Agora eu não tive dúvidas. A voz vinha realmente da caixa!!!!
"Que porra é eeeeeessa, maluco!!!" Pensei comigo mesmo. Pensei em atirá-la no bueiro mais próximo, mas não consegui tirá-la da minha mão, parecia colada! Tentei de todo jeito me livrar daquele artefato do capeta, mas acabei levando-o ao tal destino. Depois de penosos 20 minutos, cheguei numa bela casa. Um homem bem apanhado me atendeu, deixei a caixa no chão. O individuo, meio sem saber o que fazer, pegou a caixa e começou a abrir-la, não aguentei a curiosidade e dei uma olhada para dentro dela. Assim que ele abriu, o fundo se rompeu e um monte de ossos velhos, sangue e carne em decomposição esparramou-se pelo assoalho da casa. A cabeça da mulher rolou pela sala de visitas, e novamente sua voz repugnante ecoou:
"Eu voltei para você meu querido!!!! Hahahahahaha!!!!!"
O Homem, tomado pelo pânico, teve um piripaque e desmaiou, batendo a cabeça na quina da mesa, abrindo uma grande ferida por onde começou a sair sangue. Por pouco eu também não fui "pro saco", mas consegui me manter acordado e antes de dar o fora dali com o dinheiro, chamei uma ambulância e a polícia.
Só mais tarde descobri que o homem era um tal de Sr. Bonilha, envenenara sua esposa há anos e escondera o cadáver naquele sobrado abandonado. E servi de Mensageiro do Cão, levando aquela encomenda macabra para o antigo dono". Não consegui dormir por dias e sai da cidade rumo a Juiz de Fora (uma cidadezinha fedida do interior do Estado de Minas Gerais). Nunca mais voltei à Rua Vicente Pires... Mas ouvi dizer que o velho sobrado ainda existe, mas agora sob o signo dos Malditos: "CASA ASSOMBRADA".
WAZIGO
Conto originalmente escrito em 1995 e revisto em 2011.
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