domingo, 16 de fevereiro de 2014

Contos de Terror e/ou Humor Negro - Operação Somália

15 de janeiro de 1993, 10:27 pm. 

O telefone toca na delegacia de El Passo, México. Uma mulher desesperada grita por socorro não dizendo coisa com coisa. O atendente tenta acalmá-la:
_ Peraí dona... A senhora encontrou o que ?!?
A mulher gritava, escalafobeticamente, que havia um corpo em seu quintal e ele estava seco como um maracujá de gaveta.

Algumas horas depois, já na casa da mulher, os policiais mexicanos investigavam a cena do crime. O corpo estava realmente seco, parecia com os famintos somalis. O investigador Sanchez, perito em crimes sem solução (pois nunca resolveu nenhum), constatou que não haviam pelos na vítima. Várias pessoas pensaram de que era um doente terminal de câncer em tratamento de quimioterapia que acabara de se cometer algum tipo de suicídio bizarro. Mas Sanchez, perspicaz, discordava. Ele, desde o início, acreditava em um assassino serial, apesar deste ser o primeiro corpo encontrado com estas características. 

30 de janeiro do mesmo ano, 15:32 pm.
Como nenhum corpo mais foi encontrado, Sanchez já estava sendo ridicularizado na Delegacia por constatar brilhantemente que o caso Somália (como foi batizado pelo próprio Sanchez ) se tratava de um serial killer de apenas uma morte.

Em meio as risadas e zombarias, o telefone toca. Sanchez, sentindo algum pressentimento, corre para atender a chamada. Mais um corpo é encontrado, desta vez em um bosque afastado da cidade. O departamento inteiro se cala quando Sanchez revela a todos a "boa nova". Ao sair, faz aquele gesto característico com o dedo médio em riste apontando para todos na delegacia.

Desta vez o corpo era feminino, estava igualmente seco e sem pelos, inclusive nos órgãos íntimos. Após exaustiva investigação Sanchez encontra o que ele acreditava ser a primeira pista. Na pele da infeliz mulher, encontrou resquícios de cola plástica. Mais uma vez foi motivo de chacota. Indignado, Sanchez alega que vai resolver e grita zagalísticamente:
_Vocês vão ter que me engolir!
Nas semanas seguintes, a mente do pobre investigador trabalha freneticamente, mas ele não encontra solução . Um pouco de cola na pele da mulher era a sua única pista. O tempo corria e nada de novo acontecia. Nem crime, nem novas pistas. 

15 de janeiro de 1998, 11:35 pm. 

Cinco anos depois do início das investigações, para desespero de Sanchez, o caso  (a essa altura arquivado) ainda não fora resolvido e o velho lobo investigador foi transferido para algum setor burocrático por pura incompetência. Ridicularizado e sem promoção na Polícia, vivia bêbado e morava numa casa que parecia um barraco. Perambulava feito louco no bosque onde a última vítima foi encontrada procurando pistas em vão.

Numa dessas insanas caminhadas desesperadas pela madrugada, Sanchez avista num vulto nas árvores. Meio bêbado, corre para avaliar o que era. Com seu faro de detetive, percebe pegadas frescas no chão. Se abaixa para ver melhor e subitamente é atingido fortemente na nuca. Tudo se apaga.

Horas depois, Sanchez se vê nu coberto por incontáveis adesivos verdes e pendurado no teto de um porão de alguma casa abandonada no velho bosque. Apavorado e sem ter como reagir, o velho investigador percebe que sua hora chegou. Uma figura estranha entra no salão. Ele é grande e obeso, se move vagarosamente em direção a Sanchez. Rindo, o ser diametral começa a falar enquanto transpira desagradavelmente:
_ Então você é o sujeito que estava atrás de mim? Humm ha ha ha ha ha....!
Em seguida, a rolha da poço infernal sai do aposento e não volta mais.

Sanchez, cada vez mais sofrendo com a fome e sede,  descobre que aquelas centenas adesivos são na verdade Dermo Paches, aqueles adesivos para emagrecer vendidos pelas redes de TV do mundo... Ele estava, lentamente, sendo consumido pela química misteriosa e bizarra dos adesivos para emagrecimento. Apesar de saber que o fim está próximo, Sanchez sente um leve alívio e conforto.

Finalmente Sanchez, o detetive obstinado, solucionou um caso.
Mas quem irá parabenizá-lo? 



Wazigo
Conto originalmente escrito em 1997.

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