quinta-feira, 26 de abril de 2018

"Oi! De onde tecla?"

"Oi! De onde tecla?"

(3:24:30) Lobão Fala reservadamente para Daisy: Oi! De onde Tecla?
(3:25:10) Daisy Fala reservadamente para Lobão: Olá! Teclo da Tijuca. E vc?
(3:26:30) Lobão Fala reservadamente para Daisy: De Copacabana. Faz oq da vida gata? Tenho 38 anos.
(3:26:38) Daisy Fala reservadamente para Lobão: Como sabe que sou gata? Vc nem me conhece ainda? Tenho 33.
(3:28:13) Lobão Fala reservadamente para Daisy: Foi apenas um elogio :) Vc tem namorado?
(3:28:20) Daisy Fala reservadamente para Lobão: Sei... Não tenho namorado. Pq pergunta?
(3:30:54) Lobão Fala reservadamente para Daisy: Ora! Eu tb estou sozinho. Quem sabe a gente poderia se conhecer? Que tal um encontro?
(3:31:04) Daisy Fala reservadamente para Lobão: Vc é bem apressado hein? Vc acha que eu me casaria com alguém que nem conheço?
(3:32:50) Lobão Fala reservadamente para Daisy: Epa! Quem falou em casamento aqui? Ficou doida? Só disse que talvez nós pudéssemos nos conhecer.
(3:33:01) Daisy Fala reservadamente para Lobão: Vcs homens são todos iguais! Começa um relacionamento e quando fica comprometedor... Pulam fora!
(3:34:25) Lobão Fala reservadamente para Daisy: hehehehe. Vc está brincando né? Eu acabei de conhecer vc aqui no Cyberchat e vc já está falando em compromisso?
(3:34:37) Daisy Fala reservadamente para Lobão: Não se faça de bobo! Seu porco machista! Ainda bem que não fizemos nada sério! Senão vc teria que casar de qualquer modo!
(3:36:20) Lobão Fala reservadamente para Daisy: Tem cada maluco nesse mundo! Mulher!!! Nem te conheço!! Oq a gente poderia fazer aqui que me obrigaria a casar com vc? Tá doida?
(3:36:30) Daisy Fala reservadamente para Lobão: Eu sabia! Vc é igual a todos os outros! Eu já ia me entregar à um tarado como vc!!!!
(3:37:02) Lobão Fala reservadamente para Daisy: Não vai me dizer que vc acha que sexo virtual é pra valer né? Vc é doente da cabeça?
(3:37:13) Daisy Fala reservadamente para Lobão: Lógico seu porco! Vc ainda é um daqueles "trogloditas" que fazem sexo com contato corporal???? Troca de fluidos??? Argh!!! Que nojo!!!
(3:39:30) Lobão Fala reservadamente para Daisy: Pra falar a verdade sim! Acredito nos velhos costumes!
(3:39:41) Daisy Fala reservadamente para Lobão: Vou vomitar!! Vc tb acha que precisa de "sexo de contato" para ter filhos? Ninguém tem mais filhos desse modo nojento!
(3:42:46) Lobão Fala reservadamente para Daisy: Olha sua maluca! Eu sou mesmo conservador para esses tipos de coisas! Não uso fios e Neuro-estimulantes quando quero transar!
(3:42:54) Daisy Fala reservadamente para Lobão: Seu homem das cavernas!! Notei a sua lentidão em responder... Aposto que vc é um daqueles que ainda usa o teclado!
(3:44:07) Lobão Fala reservadamente para Daisy: Claro! Nunca vou implantar uma Interface no meu cérebro e me "plugar" à um Computador!! Vcs "moderninhos" ainda vão se ferrar com coisas desse tipo!
(3:44:19) Daisy Fala reservadamente para Lobão: Chega!!! Vc me dá asco! Gente com vc deveria estar no Zoológico! Vou embora! Tchau seu troglodita!
(3:44:21) Daisy Sai do CyberChat
(3:45:18) Lobão Fala reservadamente para Todos: Merda! Bons tempos os da camisinha...
(3:45:30) Lobão Sai do CyberChat


Márcio Delgado
Conto escrito originalmente em 1998. 

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Contos de Terror e/ou Humor Negro - Operação Somália

15 de janeiro de 1993, 10:27 pm. 

O telefone toca na delegacia de El Passo, México. Uma mulher desesperada grita por socorro não dizendo coisa com coisa. O atendente tenta acalmá-la:
_ Peraí dona... A senhora encontrou o que ?!?
A mulher gritava, escalafobeticamente, que havia um corpo em seu quintal e ele estava seco como um maracujá de gaveta.

Algumas horas depois, já na casa da mulher, os policiais mexicanos investigavam a cena do crime. O corpo estava realmente seco, parecia com os famintos somalis. O investigador Sanchez, perito em crimes sem solução (pois nunca resolveu nenhum), constatou que não haviam pelos na vítima. Várias pessoas pensaram de que era um doente terminal de câncer em tratamento de quimioterapia que acabara de se cometer algum tipo de suicídio bizarro. Mas Sanchez, perspicaz, discordava. Ele, desde o início, acreditava em um assassino serial, apesar deste ser o primeiro corpo encontrado com estas características. 

30 de janeiro do mesmo ano, 15:32 pm.
Como nenhum corpo mais foi encontrado, Sanchez já estava sendo ridicularizado na Delegacia por constatar brilhantemente que o caso Somália (como foi batizado pelo próprio Sanchez ) se tratava de um serial killer de apenas uma morte.

Em meio as risadas e zombarias, o telefone toca. Sanchez, sentindo algum pressentimento, corre para atender a chamada. Mais um corpo é encontrado, desta vez em um bosque afastado da cidade. O departamento inteiro se cala quando Sanchez revela a todos a "boa nova". Ao sair, faz aquele gesto característico com o dedo médio em riste apontando para todos na delegacia.

Desta vez o corpo era feminino, estava igualmente seco e sem pelos, inclusive nos órgãos íntimos. Após exaustiva investigação Sanchez encontra o que ele acreditava ser a primeira pista. Na pele da infeliz mulher, encontrou resquícios de cola plástica. Mais uma vez foi motivo de chacota. Indignado, Sanchez alega que vai resolver e grita zagalísticamente:
_Vocês vão ter que me engolir!
Nas semanas seguintes, a mente do pobre investigador trabalha freneticamente, mas ele não encontra solução . Um pouco de cola na pele da mulher era a sua única pista. O tempo corria e nada de novo acontecia. Nem crime, nem novas pistas. 

15 de janeiro de 1998, 11:35 pm. 

Cinco anos depois do início das investigações, para desespero de Sanchez, o caso  (a essa altura arquivado) ainda não fora resolvido e o velho lobo investigador foi transferido para algum setor burocrático por pura incompetência. Ridicularizado e sem promoção na Polícia, vivia bêbado e morava numa casa que parecia um barraco. Perambulava feito louco no bosque onde a última vítima foi encontrada procurando pistas em vão.

Numa dessas insanas caminhadas desesperadas pela madrugada, Sanchez avista num vulto nas árvores. Meio bêbado, corre para avaliar o que era. Com seu faro de detetive, percebe pegadas frescas no chão. Se abaixa para ver melhor e subitamente é atingido fortemente na nuca. Tudo se apaga.

Horas depois, Sanchez se vê nu coberto por incontáveis adesivos verdes e pendurado no teto de um porão de alguma casa abandonada no velho bosque. Apavorado e sem ter como reagir, o velho investigador percebe que sua hora chegou. Uma figura estranha entra no salão. Ele é grande e obeso, se move vagarosamente em direção a Sanchez. Rindo, o ser diametral começa a falar enquanto transpira desagradavelmente:
_ Então você é o sujeito que estava atrás de mim? Humm ha ha ha ha ha....!
Em seguida, a rolha da poço infernal sai do aposento e não volta mais.

Sanchez, cada vez mais sofrendo com a fome e sede,  descobre que aquelas centenas adesivos são na verdade Dermo Paches, aqueles adesivos para emagrecer vendidos pelas redes de TV do mundo... Ele estava, lentamente, sendo consumido pela química misteriosa e bizarra dos adesivos para emagrecimento. Apesar de saber que o fim está próximo, Sanchez sente um leve alívio e conforto.

Finalmente Sanchez, o detetive obstinado, solucionou um caso.
Mas quem irá parabenizá-lo? 



Wazigo
Conto originalmente escrito em 1997.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Terror e Morte - Casos "Verídicos" - Gatos Escaldados


Na Carolina do Norte (Estados Unidos da América), o pacato funcionário público Joseph Hapler foi vítima de um belo "chute no saco" do destino.

Numa noite fria e chuvosa, o bondoso Joseph levou dois gatos de rua famintos para o seio de seu lar. Molhados e agitados, os bichanos, no meio de sua cólera e loucura habitual entre criaturas acostumadas a conversar com Satanás, encostaram num fio desencapado do velho sobrado e provocaram um curto circuito.

Com isso, seus pelos pegaram fogo, causando pânicos nos felinos. Estes correram ensandecidamente pelos cômodos da casa, enquanto emitiam seus miados desesperados, e começaram um incêndio que consumiu a residência e o pobre Joseph que dormia em seu quarto, no segundo andar.

Os dois gatos escaldados fugiram e nunca mais foram vistos.


Essa história foi noticiada no Jornal "O GLOBO" em 12 de fevereiro de 1948.
Postado na Necrose pela primeira vez em 1998.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Contos de Terror e/ou Humor Negro - O Mosteiro de Satanás


http://www.wallpaperhi.com/thumbnails/detail/20130410/dark%20night%20diablo%20fantasy%20art%20church%20temples%20tristram%20artwork%20monastery%201920x1080%20wallpaper_www.wallpaperhi.com_13.jpg

1952, quinta-feira, 23 de dezembro.

Leonel sai de casa para passar o natal com a família no Rio de Janeiro. Nas estradas mineiras chovia como ele nunca tinha visto antes. Sozinho no carro, Leonel sentiu um calafrio como se estivesse prestes a morrer. Na mesma hora parou o carro no acostamento e começou a sentir febre e a suar frio. Na estrada não passava um veículo e a chuva havia aumentado. Quase cego com a tempestade, Leonel avista uma luminosidade não muito longe de onde parara carro. Caminhando com dificuldade, o pobre homem chega até o portão do que parecia ser um mosteiro franciscano, parcialmente encoberto pela vegetação da Serra de Petrópolis. Naquele momento, sequer chegou a pensar que apesar de conhecer bastante a estrada, nunca havia reparado naquela construção que parecia ser mais antiga que a própria estrada. Ao bater na porta, manuseando pesadas aldravas, gritou por ajuda mas até desmaiar.

Sem qualquer noção de tempo, Leonel finalmente acorda com muita dor de cabeça em um quarto escuro, frio e úmido. Ele estava deitado numa cama simples e pela janela podia ver que a chuva não havia reduzido. Quando tentou levantar-se da cama a porta se abre e um homem alto vestido de monge entra no quarto.
_ Você deve deixar o mosteiro imediatamente - O homem fala com uma voz solene e soturna.
_ Estou doente. Não podem me mandar embora deste jeito, por favor deixe-me ficar. - Agonizou Leonel, quase chorando.

O monge não disse mais nada e se retirou do aposento. Preocupado em ter que ir embora, Leonel se levanta e sai do quarto sorrateiramente. O lugar mais parecia um calabouço medieval. O coitado não sabia o que fazer. Por instinto, Leonel  desce as escadas para o que parecia ser um porão, ou melhor, uma masmorra, pois era possível ver nichos nas paredes fechados por grades.

De repente uma voz, que parece vir de uma das celas, o chama pelo nome. Alarmado e curioso, Leonel se aproxima da grade e percebe que esta se encontra trancada com um pesado cadeado. Apesar da pouca luz, Leonel consegue ver que através da pequena grade um homem magro de cavanhaque se dirige a ele.
_ Amigo, você precisa me ajudar. Esses monges me prenderam aqui e me torturam quase diariamente. E eles farão isso com você também se não fugirmos logo. Por fa..."
Antes do sujeito concluir a frase, o mesmo monge de antes, se interpõe entre Leonel e a grade e  grita alto com ele:
_ Saia já daí!!! - Agarrando-o pelo braço, o monge apresentando uma força impressionante arrasta o enfermo rapaz escada acima enquanto este consegue ver o braço e a mão do prisioneiro projetados para fora da grande numa tentativa desesperada de alcança-lo. O pobre Leonel não tinha qualquer força para reagir e assim foi levado facilmente.

Agora, levado para uma sala gigantesca repleta de monges, ao ser deixado no centro e ajoelhado ao chão, Leonel se vê como um réu sendo julgado pelos sinistros monges que o circundam de maneira solene.O que parecia ser o líder daquela infame versão da bondosa ordem franciscana, falou:
_ Rapaz, você deve ir embora imediatamente. Foi um erro nosso tê-lo deixado entrar aqui. Sabemos do seu estado de saúde mas não podemos deixá-lo ficar.

Leonel mal ouviu o homem e desmaiou novamente. Horas depois, o infeliz viajante acorda mais uma vez, desta vez na masmorra. Mas por sorte, a porta que estava trancada com o mesmo tipo de cadeado que vira anteriormente, estava presa a uma parede tão antiga e danificada pela infiltração de séculos que se solta facilmente das dobradiças assim que Leonel projeta seu peso na grande ao tentar abrir a porta da cela.

Sem vigília, Leonel consegue chegar até a cela do velho prisioneiro, talvez para tentar o mesmo artifício. Mal se aproxima da cela, Leonel é surpreendido com o sujeito na pequena grade pedindo ajuda novamente.
_ Por favor, me tire daqui! Eles irão nos torturar! Eles são de uma seita maligna. São adoradores de Satanás!

A ver que esta grade está fortemente presa a parede e tremendo de pânico, Leonel chega ao que parece um pequeno depósito no fundo da masmorra em busca de uma ferramenta ou algo capaz de abrir a cela e salvar o pobre velho.

Sua busca dá resultados e minutos depois Leonel retorna triunfante com um imenso pé de cabra. Com um pouco de esforço, a porta é finalmente arrombada. O sujeito magro sai correndo da cela, rindo como se uma piada hilária tivesse acabado de declamada por um talentoso bufão. Sem saber do que se tratava e imaginando que isso poderia ser reflexo da loucura que crescera no velho depois de décadas de cativeiro, Leonel corre também pelos corredores da masmorra até dar de cara com um imenso monge que aparentava ter quase dois metros de altura.

_ O que você acaba de fazer, maldito?! - Rugiu o monge que Leonel ouvira do velho ser um Adorador do Infame Anjo Caído.
_ Me solte! Me solte seu filho de Satanás! - Gritava Leonel tentando se soltar das mãos  do monge que o prendiam segurando-lhes os ombros.

Com um olhar mais de temor do que de raiva e com uma voz quase beirando o desespero, o homem alto encara o pobre Leonel e diz:
_ Você não sabe o que fez... Sua vida está condenada! Você acaba de libertar o próprio Satanás e ele fará de você o seu servo predileto. Sua alma será dele! 

Ao ouvir tais palavras e sentindo no fundo de sua alma que estas eram verdadeiras, Leonel emite um terrível grito de pavor... um último grito de pavor, pois morrera naquele último suspiro de sua alma, que imediatamente começa a descer para as profundezas da danação eterna.

 
Wazigo
Conto escrito em 1998. Revisto em 2014.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Contos de Ficção Científica - Prometeu e o Fogo



https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEit3dG28sZTJdCWc_2t9c-EHC6V4RDBbUS_YcNgMY6Hx4o1Ood61SNi7rL591ExzOLIkuDAlMKFCuBhu8jbMk3IKTjfvy0nRxWQ5DhxITZccf0FAybwXngCk6PuLU8J1RSiYmE0E28ef7E/s1600/Sol.gif

Há horas Tom olhava para um ponto no infinito entre um painel, uma cadeira e o chão da vazia Ponte de Comando da Prometeu. Ele sabia que não havia mais nada a fazer além de esperar. De repente acordou do estado de letargia e checou novamente os controles de navegação e confirmou aquilo que já sabia: a Prometeu estava em rota de colisão com Sol.

O relógio na parede marcava 12:00 pm da Terra. Isso significava que as 13 cápsulas individuais de fuga dos outros tripulantes já deveriam ter sido resgatadas pelas naves da Estação Marte perto do cinturão de asteroides de Kruiper. Tom era o único tripulante a bordo, pois a colisão e a consequente explosão que causara toda essa situação havia destruído 3 cápsulas das 16 disponíveis, além da enfermaria, dormitórios e um dos hangares internos. Não foi difícil decidir quem ficaria na Prometeu pois Tom era o Comandante do Cargueiro Espacial.

Tom desmembrou as partes avariadas do resto da nave. Para passar o tempo, Tom assistiu todos os filmes e ouviu todas as fibras lasers da sala de recreação multimídia, comeu todas as latas de sorvete e bebeu todas as cervejas do refeitório. Vagou por toda nave onde havia oxigênio ou por onde não fora lacrada no momento da colisão, que por falta de informação e leituras dos sensores, só podia especular que tenha sido algum pequeno meteorito em viagem pelo sistema solar em altíssima velocidade. Fez uma bela faxina na Ponte de Comando, horas de bicicleta ergométrica e jogou paciência até amarelar as cartas (preferia pôquer, mas não havia parceiro). Tom só evitava um local, o observatório da nave. Sempre fora um homem forte, frio e durão, mas a idéia de ver o grande globo incandescente se aproximando a uma velocidade de mais de 50 mil quilômetros horários era um pouco demais para ele. Pelo menos era o que achava.

A temperatura dentro da Prometeu já estava ficando incômoda, já que parte do sistema de condicionador de ar se fora com a explosão. A nave havia acabado de passar por Mercúrio e a força gravitacional do planeta só contribuiria para aumentar a velocidade da nave, apressando assim a colisão. Tom e o computador já haviam previsto isso desde o dia da explosão, de modo que não foi nenhuma surpresa. Para ser mais exato, a passagem da Prometeu por Mercúrio fez com que sua trajetória inicial sofresse um pequeno desvio, portanto, a nave nunca iria realmente colidir com o Sol, pois na verdade, ela passaria em órbita bem próxima da estrela, o suficiente para vaporiza-la completamente. A viagem chegaria ao fim em questão de dias.

Em determinado momento, o calor estava ficando insuportável e Tom vagava pela nave sempre com uma garrafa de água e seu canudo para aliviar o mal estar. Por vários momentos, Tom pensou em simplesmente deitar e esperar a morte chegar, mas o instinto humano de sobrevivência falava mais alto.

Com uma temperatura de mais alguns milhares de graus centígrados a Prometeu seria transformada em poeira cósmica, com exceção do novo satélite solar Ícaro que estava em um dos porões de carga, pois era única coisa a bordo que aguentaria sem problemas o bombardeio incessante dos raios solares. O comandante, para passar o tempo, olhou mais uma o inventário da carga.

_ Pena que a Prometeu não é feita do mesmo material deste satélite, senão seu interior estaria a salvo, inclusive eu...

Nesse momento, um lampejo de luz passou pelo seu semblante. Mas estes não tinham nada a ver com os feixes de luz do Sol que atravessavam pelas estreitas janelas. O capitão da Prometeu flutuou até o hangar o mais depressa possível, pegou sua maleta de ferramentas no almoxarifado e entrou. O hangar 18 da Prometeu tinha uma luz fraca e azulada, pois o novo satélite era feito de um material com tecnologia de ultima geração. Apresentando uma reflexão de quase 100%, ele ficaria praticamente invisível para quem não o olhasse com cuidado. Como os raios solares são ondas eletromagnéticas, quase sua totalidade seria refletida pelo satélite, deixando-o imune à temperatura pois essa reflexão quase que absoluta impediria qualquer toca de calor.
Tom começou a trabalhar rápido, transpirando como nunca. Pegou suas ferramentas e começou abrir o Ícaro. O satélite tinha o tamanho de uma geladeira grande. Ao abrir a porta de manutenção, Tom viu o mar de instrumentos e equipamentos do satélite. Chegou a conclusão que levaria muito tempo para terminar o trabalho. Era exatamente o que ele não tinha.

O primeiro dia foi duro. Tom havia bebido 9 litros de água e mesmo assim se sentia desidratado. Suas roupas estavam ensopadas e parte dos equipamentos eletrônicos da Prometeu já estavam defeituosos. Mas a esperança de vencer a morte certa o havia dado forças que sequer imaginava e assim trabalhava freneticamente no satélite. As portas automáticas da Prometeu não mais funcionavam, alguns comandos de navegação da Ponte apagaram e as luzes piscavam. Ele só torcia para que o guindaste e o rádio da nave aguentassem por mais algumas horas.

Ao final do segundo dia, todo o interior do satélite estava no chão do hangar. Bilhões de dólares espalhados no chão. A esse ponto as luzes da Prometeu não funcionavam e a única luz que Tom dispunha era a lanterna do traje espacial que colocara assim que o casco da nave começou a ranger de maneira insistente. Tom, usando o rádio pessoal do traje - que por milagre ainda funcionava  - gravou suas coordenadas e o plano que havia criado para a Estação Solar de Mercúrio. Deixou a mensagem repetindo e voltou ao trabalho. Lacrou o traje, iniciou a descompressão do hangar e teve muito trabalho em abrir as portas externas manualmente com o seu corpo já bastante debilitado. Operando a ponte rolante, engatou o satélite e o levou lentamente até a porta do hangar.

Pela primeira vez Tom vira o Sol depois da explosão. O visor do capacete aguentava bem a radiação e ele pôde ver a imensa esfera laranja ocupando cerca de 30 graus da visão. Seu traje não suportaria muito mais aquele bombardeio de radiação eletromagnética. O braço mecânico do guindaste levou o Ícaro para fora e assim que estava uns 15 metros da Prometeu, Tom destravou o braço do guindaste e o satélite foi solto no espaço.

Ele não tinha muito tempo, seu corpo já começava a arder e a integridade do traje já estava comprometida. Tom, fazendo um esforço supremo, usou um cabo de aço previamente preso ao satélite para o alcançar nessa breve travessia no vácuo absoluto. Finalmente, após segundos que pareceram eras geológicas, entrou pela porta - que na verdade não era uma porta e sim uma escotilha de manutenção - e cortou o cabo com seu maçarico laser de bolso prendendo a respiração para não danificar o casco refratário do Ícaro. Rezando e cruzando os dedos - apenas em sua mente, pois isso é impossível dentro de uma luva de traje espacial -  ligou o pequeno rádio farol que já estava dentro do satélite e fechou a escotilha, prendendo-a internamente usando um leve cabo de aço fazendo um torniquete em alguma parte  da estrutura interna do Ícaro. . Tom só conseguia ficar de cócoras dentro do satélite, acendeu a lanterna do capacete e verificou a vedação interna.
 
Tudo parecia em ordem. Tom teria que ficar pelo menos 2 semanas naquela posição até que o satélite desse a volta no Sol e fosse expelido pela gravidade solar de volta à Mercúrio (pelo menos era isso que seus cálculos lhe dissera). Suando muito, bebeu um grande gole de água no canudo do capacete e mordeu as 3 cápsulas de hipersono que mantivera embaixo da língua desde de que colocara o traje. Só assim teria oxigênio suficiente para aquelas duas semanas em órbita, enquanto o pequeno Ícaro terminasse parte de sua volta sobre o inferno solar "abaixo" e novamente fosse expelido pelo estilingue gravitacional para longe da estrela e finalmente fosse resgatado pelas naves de resgate vindas de Mercúrio.


... E foi o que aconteceu.



Márcio Delgado
Conto originalmente escrito em 2000. Revisto em 2014. Portanto, as semelhanças com o filme "Sunshine" de 2007 são meras coincidências. A escolha do nome da nave, também por motivos óbvios, não tem qualquer relação com o filme  "Prometheus" de 2012.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Contos de Ficção Científica - Oi! De onde tecla?

(3:24:30) Lobão Fala reservadamente para Daisy : Oi! De onde Tecla?


(3:25:10) Daisy Fala reservadamente para Lobão : Olá! Teclo da Tijuca. E vc?


(3:26:30) Lobão Fala reservadamente para Daisy : De Copacabana. Faz oq da vida gata? Tenho 38 anos.


(3:26:38) Daisy Fala reservadamente para Lobão : Como sabe que sou gata? Vc nem me conhece ainda? Tenho 33.


(3:28:13) Lobão Fala reservadamente para Daisy : Foi apenas um elogio :) Vc tem namorado?


(3:28:20) Daisy Fala reservadamente para Lobão : Sei... Não tenho namorado. Pq pergunta?


(3:30:54) Lobão Fala reservadamente para Daisy : Ora! Eu tb estou sozinho. Quem sabe a gente poderia se conhecer? Que tal um encontro?


(3:31:04) Daisy Fala reservadamente para Lobão : Vc é bem apressado hein? Vc acha que eu me casaria com alguém que nem conheço?


(3:32:50) Lobão Fala reservadamente para Daisy : Epa! Quem falou em casamento aqui? Ficou doida? Só disse que talvez nós pudéssemos nos conhecer.


(3:33:01) Daisy Fala reservadamente para Lobão : Vcs homens são todos iguais! Começa um relacionamento e quando fica comprometedor... Pulam fora!


(3:34:25) Lobão Fala reservadamente para Daisy : hehehehe. Vc está brincando né? Eu acabei de conhecer vc aqui no Cyberchat e vc já está falando em compromisso?


(3:34:37) Daisy Fala reservadamente para Lobão : Não se faça de bobo! Seu porco machista! Ainda bem que não fizemos nada sério! Senão vc teria que casar de qualquer modo!


(3:36:20) Lobão Fala reservadamente para Daisy : Tem cada maluco nesse mundo! Mulher!!! Nem te conheço!! Oq a gente poderia fazer aqui que me obrigaria a casar com vc? Tá doida?


(3:36:30) Daisy Fala reservadamente para Lobão : Eu sabia! Vc é igual a todos os outros! Eu já ia me entregar à um tarado como vc!!!!


(3:37:02) Lobão Fala reservadamente para Daisy : Não vai me dizer que vc acha que sexo virtual é pra valer né? Vc é doente da cabeça?


(3:37:13) Daisy Fala reservadamente para Lobão : Lógico seu porco! Vc ainda é um daqueles "trogloditas" que fazem sexo com contato corporal???? Troca de fluidos??? Argh!!! Que nojo!!!


(3:39:30) Lobão Fala reservadamente para Daisy : Pra falar a verdade sim! Acredito nos velhos costumes!


(3:39:41) Daisy Fala reservadamente para Lobão : Vou vomitar!! Vc tb acha que precisa de "sexo de contato" para ter filhos? Ninguém tem mais filhos desse modo nojento!


(3:42:46) Lobão Fala reservadamente para Daisy : Olha sua maluca! Eu sou mesmo conservador para esses tipos de coisas! Não uso fios e Neuro-estimulantes quando quero transar!


(3:42:54) Daisy Fala reservadamente para Lobão : Seu homem das cavernas!! Notei a sua lentidão em responder... Aposto que vc é um daqueles que ainda usa o teclado!


(3:44:07) Lobão Fala reservadamente para Daisy : Claro! Nunca vou implantar uma Interface no meu cérebro e me "plugar" à um Computador!! Vcs "moderninhos" ainda vão se ferrar com coisas desse tipo!


(3:44:19) Daisy Fala reservadamente para Lobão : Chega!!! Vc me dá asco! Gente com vc deveria estar no Zoológico! Vou embora! Tchau seu troglodita!


(3:44:21) Daisy Sai do CyberChat


(3:45:18) Lobão Fala reservadamente para Todos : Merda! Bons tempos os da camisinha...


(3:45:30) Lobão Sai do CyberChat 


Márcio Delgado
Esse conto foi escrito em 1997 quando os "chatrooms" (salas de bate-papo) eram uma das maiores atrações nos primórdios da internet.